Chapinha nunca mais: mulheres contra a ditadura do liso
- Breno Leal, Marcela Sá e Valmor Mendonça
- 8 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
A decisão de assumir os cabelos crespos ou cacheados tem se tornado comum nos últimos anos entre as mulheres. O processo conhecido como transição capilar é chamado assim porque não se trata de algo rápido. A depender do caso a mudança pode levar até dois anos.

Seja por estarem insatisfeitas com o estado do cabelo após o uso de muita química, ou motivadas por um processo de auto aceitação e orgulho dos cabelos naturais, muitas mulheres, agora cacheadas, tem chamado ainda mais atenção por onde passam.
Mas o processo é trabalhoso. Dependendo da química aplicada para alisar o cabelo, não dá para devolver aos fios a sua composição natural. Por isso, a transição consiste em esperar que a raiz do cabelo cresça o suficiente sem que qualquer tipo de química seja aplicada. Daí, realiza-se o “big chop” (do inglês, grande corte): toda a parte alisada do cabelo é removida, restando apenas os novos fios. E para aquelas mais radicais, existe a alternativa de cortar todo o cabelo na máquina em tamanho muito curto, para que ele cresça novamente em sua versão natural.

Pesquisa realizada pela L'oreal aponta maioria das mulheres brasileiras como crespas e cacheadas. Mas apesar do número expressivo, 63% delas desejam ter cabelo liso. O número se dá por culpa de uma indústria de cosméticos voltado aos cabelos lisos, além da publicidade e a moda que historicamente ignoram os fios não lisos.

A estudante Amanda Nepomuceno conhece bem o processo. Depois de alisar os cabelos durante dois anos ela decidiu voltar aos cachos. A transição durou 1 ano e 8 meses. A primeira atitude foi deixar os cabelos livres de qualquer produto alisador, e depois veio o big chop. Mas o processo, além de longo, não foi fácil. “A maior dificuldade é quando a raiz está cheia. Metade do cabelo fica liso e outra metade cacheado. Você fica muita aflita”.

Amanda Nepomuceno antes da transição, após o corte e com 1 ano e 5 meses de cachos. (Arquivo Pessoal)
Com a falta de conhecimento, pode ser necessário, e até crucial, o acompanhamento de quem entende do assunto. O cabeleireiro Júnior Gavazzi, que também trabalha com a transição capilar, diz que aquela que escolher não cortar todo o cabelo de uma vez pode fazer isso a cada dois meses. “O processo demora um pouco e requer muita paciência, além de uma série de cuidados. É necessário investir em bons shampoos, cremes e finalizadores”.
Na internet é fácil encontrar mulheres divulgando seus relatos pessoais com relação à transição, e conteúdo sobre cuidados com os fios, estimulando outras a também entrarem no processo. É o caso da youtuber Rayza Nicácio, que postou seu primeiro vídeo na internet há quase seis anos e hoje é referência na web quando o assunto são cabelos cacheados. Seu canal no YouTube tem mais de um milhão de seguidores.

Ao assumir os cachos e postar na internet, Rayza ajudou muitas jovens a se aceitarem cacheadas. (Divulgação)
“Aceitar-se cacheada numa sociedade que ainda hoje insiste no cabelo liso como padrão é um exemplo de coragem e resistência. Demorou um pouco para eu entender que eu deveria ser mais eu, mais livre, mais simples e, acima de tudo, cacheada”. Fala inspiradora da cacheada Amanda Nepomuceno.
Comments