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A princesa plebeia, o rei e o leão: uma entrevista literária

  • Giselle Vasconcelos
  • 8 de mar. de 2017
  • 4 min de leitura

Entrevista exclusiva com o cantor Djavan durante a Feira Literária de Marechal Deodoro

Trecho da música 'Esquina' de Djavan


Acordei na manhã ensolarada de sexta-feira (14), com brilhos nos olhos, em saber que no fim da tarde o ilustre Djavan estaria em Marechal Deodoro. Brincando, por onde passava dizia e sonhava “Hoje vou conversar com o Djavan, quer mandar algum recado a ele?”. Todos riam e alguns respondiam “manda um beijo pra ele”, “Grava o áudio no whats app dele mandando um beijo pra mim", "isso vai ser meu presente de natal”. Falas e risos coletivos.

A Feira Literária de Marechal Deodoro (Flimar) acontece anualmente. Em 2014, o Homenageado foi o cantor e compositor Djavan. Alagoano de família pobre, aos 23 anos foi para o Rio de Janeiro se aventurar em busca de um sonho.


Após uma série de palestras com tema “sobre o Djavan e para o Djavan”, alguns jornalistas foram escolhidos para direcionar perguntas ao artista. Assistindo ao espetáculo, pensava nas perguntas que faria se estivesse naquele lugar.

Nesse momento um turbilhão de perguntas surgiu na minha mente, a vontade de entrevista-lo aumentava, era como a frase de um Mestre soasse nos meus ouvidos.

Tudo a gente pode,

só depende da

Força do Querer.

Concentrada na força vital que circulava dentro de mim, articulava formas de conseguir trocar algumas palavras com o poeta. Depois do bate-papo coletivo, várias pessoas o circulavam. Eram fãs querendo fotos, mostrar um trabalho e Eu! No meio do povão querendo entrevista-lo.

Como entrar no castelo do Rei?



Naquele momento só havia duas certezas. A primeira, que queria entrevistar o músico (Fui exigente, não queria entrevista-lo no meio da multidão. Não era o meu foco) e a segunda, certeza era a vontade imensa de ir ao banheiro. Então pensei, “vou ao banheiro, quando eu voltar estará mais vazio e tento conversar com ele”, assim fiz.


No caminho ganhei o livro “Djavan, para cantar e contar”. A fila do banheiro estava quilométrica (com todo exagero possível). Então, fui ao bar a poucos metros.


Correndo, pensei na possibilidade do ilustre Djavan sair do evento pela porta dos fundos. Segui minha intuição, o coração me guiou. No lugar já se reunia algumas pessoas, entre elas a produtora do músico (não sei o nome). Aproximei, me apresentei e perguntei se trabalhava com o Cantor. O silêncio predominou.


Seu olhar parecia que estava falando, 'Se eu disser que trabalho, essa menina vai querer falar com ele'. Então, afirmei, "Você trabalha com Djavan". Balançou a cabeça com um sorriso singelo confirmando. Contei que sou estudante de jornalismo, precisava da oportunidade de conversar com ele.


Exercendo o trabalho, a produtora disse que não poderia entrevista-lo. “Minha querida, o Djavan vai sair para comer. Ele ainda não almoçou”, disse. Saímos para lados opostos.

A porta me distanciava do rei da música brasileira.

Notei que o prefeito do município de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus, tinha chegado ao local “estratégico”. Não tenho amizade com autoridades, poucas foram às vezes que falei com ele. Ao ver-lo sabia que o sonho estava mais perto de se realizar.


Toquei na mão, olhei nos olhos do prefeito e fiz minhas apresentações.

“Cristiano, sou Giselle Vasconcelos, estudante de

jornalismo. Necessito conversar com o Djavan.

E o Senhor, como autoridade máxima do município,

pode me colocar na sala que ele está”, pedi.



Por sua vez respondeu. “Ele não esta aqui, já saiu no carro”, disse. Continuei. “Não, senhor! Ele está dentro daquela sala”, insisti.


Me vi na disputa de “SIM e NÃO”. Até o momento que o prefeito me conduziu a porta, onde se encontrava, segundo o Jornalista Ricardo Cavro Albin, “a Trindade Santa da Música Brasileira”.

Um Leão por segundo

-Ufa, entrei no castelo. Agora é só entrevistar o rei.

Responderam: -Não! Volte duas casas.

“-.-

Ao entrar no castelo, dei de cara com um leão. Era enorme e vestia verde. Fazia o trabalho de segurança do rei. O rugido dele dizia que eu não podia estar naquele local. Já tinha chegado tão longe, não ia desistir. Como uma princesa educava pedi licença e o deixei rugindo sozinho. Ficando lado a lado do rei da noite.





O Grande Encontro

O poeta Djavan autografava três livros. Trêmula, encostei ao lado e falei em seu ouvido. “Djavan, sou estudante de jornalismo, gostaria de fazer uma pequena entrevista com você, pode ser?”, perguntei.


Com um olhar singelo, Djavan falou, “Se for pequena, pode!”.


Quando recebi aquele olhar, lembrei quando explicou durante o bate-papo coletivo que o sentido que gosta de explorar é a visão, o olhar.

“Me envolvo pelo olhar”, disse Djavan.

Entrevista concedida, voz tremula e nas minhas costas um leão rugia.

“Você não pode fazer isso!”, rugia o leão.

Olhos, ouvidos e coração eram apenas do homenageado, que parecia nem ouvir os o som leão.

A cada palavra uma lagrima caída dos meus olhos. Perguntei sobre a sensação de ser inspiração de tantas pessoas (inclusive a minha). Sereno e calmo, Djavan respondeu com o olhar penetrante.


“Me sinto responsável por tanta expectativa. Uma coisa que me enche de responsabilidade, orgulho, prazer e sobre tudo de energia para continuar criando, compondo e tocando as pessoas”.



Segurando firme minha mão, o cantor disse conselhos para alcançar os objetivos.


“Quero dizer que se você seguir a máxima de trabalhar incessantemente, buscar o seu objetivo, focar no seu intento, você vai conseguir”, disse Djavan.


Momentos antes de toda essa história acontecer, tinha lido uma pergunta elaborada pelo Professor Walcler Jr. Arrisquei em perguntá-la enquanto o Leão tentava me tirar do local.

"Posso fazer mais uma pergunta?", perguntei.

E mais uma vez com o sorriso doce me concedeu a palavra.

“O senhor tem vontade de gravar com músicos alagoanos,

como Nelson da Rabeca, Chau do Pifé?”, questionei.

“Adoraria! Sentiria muito prazer. É uma coisa difícil por logística, tempo e agenda. Um dia, se for possível, vou fazer com o maior prazer”, respondeu entusiasmado.

A entrevista exclusiva tinha acabado, mas continuei ao lado do compositor de Flor de Lis.


“Você quer um autografo?”, perguntou o cantor.

Claro que queria, mas a emoção era tanta que só fazia tremer.

“Quem estar tremendo mais, eu ou você?”, continuou.

Soltando sorrisos juntos, respondi.

“Sou eu, Djavan”.

Fui embora do castelo, a cada passo parecia estar pulando em nuvens.

“Invade e fim!”


 
 
 

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