Suicídio na adolescência: por quê?
- Marcelle Maria e Yasmin Assis
- 12 de abr. de 2017
- 4 min de leitura


Foto: Pixabay.com
Acordar de manhã e abrir os olhos parece algo banal e cotidiano pra muita gente. Levantar, trocar de roupa, ir à escola ou ao trabalho. Situações comuns que requerem pouco esforço e que fazem parte da rotina de quase todo cidadão. Parece muito fácil para maioria, mas não para quem sofre de depressão e ansiedade.
Consideradas como o mal do século, os distúrbios afetivos atingem um número expressivo da população mundial. Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, a depressão atinge quase 6% da população brasileira. Já o índice de ansiedade atinge o maior do mundo, cerca de 9% em brasileiros.
Dados como esses são cada vez mais alarmantes, uma vez que dentro dessa faixa etária existe uma quantidade expressiva de crianças e adolescentes que sofrem dessas doenças de forma profunda, levando-os a cometer o suicídio. Entre as principais causas de depressão entre jovens estão o divórcio dos pais, a mudança de cidade e de vizinhança, bullying e fim de relacionamentos. Já nos adultos pode acontecer por desemprego, divórcio, perda de entes queridos ou conflitos conjugais, mas também pode acontecer sem uma aparente causa.
Através de pesquisa, a World Health Organization constatou que, mesmo a maior taxa de suicídios proveniente da depressão seja entre adultos e idosos, desde os anos 90 essa tendências vem mudando de forma preocupante. Os jovens entre 10 e 19 anos tem sido as grandes vítimas da exaustão da luta contra a ansiedade e depressão.
Ainda tratados de forma indevida pelos adultos e responsáveis, a tentativa do suicídio tende a ser a chamada final por ajuda a qual os jovens pedem. Durante o período escolar, do ensino fundamental ao médio, são quando as situações tornam-se mais fortes e marcantes, levando o indivíduo a tirar a própria vida.

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João* conta que sofre de ansiedade e depressão desde os 10 anos. Rejeição, bullying, o sentimento de abandono tanto por conta dos familiares como por conta dos colegas de classe. “Eu passava horas jogando online porque era o único local em que eu me sentia bem e com amigos, por mais que fossem amigos virtuais, eram amizades reais”.
Essa realidade foi constante entre os 10 e 16 anos, até que chegou o ápice e veio a tentativa do suicídio. Por mais infantil que João* julga ter sido, a tentativa representou seu cansaço em tentar se encaixar e entender o porquê de se sentir daquela forma.
A psicóloga e terapeuta cognitiva-comportamental Fabiana Amorim, conta que para identificar a doença é necessário observar alguns comportamentos da pessoa, que pode apresentar durante duas semanas consecutivas os seguintes sintomas: insônia ou hipersonia, alterações do apetite, falta de energia para realizar as atividades rotineiras, isolamento, choro e um sentimento de desesperança constante.
“A depressão também pode ser o sintoma de outras doenças psiquiátricas como transtorno do pânico, borderline, transtorno obsessivo compulsivo, ansiedade generalizada e outras”, acrescenta Fabiana.
Hoje, aos 23 anos, João* explica que não deixou de se sentir assim, mas que compreende mais e consegue conviver socialmente de forma mais saudável e almeja objetivos na vida. Mesmo com o uso de medicamentos receitados por psiquiatras, a maior parte da melhora foi devido à força de vontade e trabalho individual sobre esses tipos de pensamentos.
A família tem um papel crucial para se chegar ao um diagnóstico. Ela é que percebe a mudança de comportamento do familiar e pode contribuir no tratamento e recuperação do paciente. “É preciso entender que depressão não é frescura nem sinônimo de fraqueza. É uma doença psiquiátrica séria e que existe tratamento. Em poucos meses é possível perceber as melhoras”, salienta a psicóloga.


Segundo o Mapa da Violência, feito pelo sociólogo Julio Jacobo, no período de 1980 a 2013 as causas externas de mortalidade, como o suicídio, passaram de 0,2% para 1,0% entre os jovens de 16 e 17 anos. Além disso, o Brasil ocupa 8º lugar no ranking mundial de suicídios, marcando cerca de 12 mil casos por ano.
Ainda que muito recorrente, os pais ainda não compreendem as reais necessidades de jovens que passam por essa situação. O cyberbullying também constitui uma parcela grande como causa da depressão sofrida por essa faixa etária.

Lançada recentemente pela Netflix Produções, a série “13 Reasons Why” rapidamente virou uma febre entre jovens e adultos. A trama se passa em 13 episódios, em que cada um é passado uma fita explicando um dos motivos que levaram a adolescente Hannah Baker a cometer suicídio.
Depreciações, cyberbullying, perseguição, assédio, estupro e agressão verbal foram algumas das razões que culminaram na depressão e morte de Hannah. Cada pessoa envolvida em sua rotina escolar tinha participação em seu sofrimento psicológico.
Jovens como Hannah, entre 14 e 17 anos, os quais estão passando pelo período de puberdade e transição são altamente suscetíveis a serem vítimas de uma fragilidade emocional.
Pela proporção da disseminação da série e muitos comentários nas redes sociais, a youtuber e blogueira Bruna Vieira, do blog "Depois dos quinze", relatou sua experiência de bullying na adolescência. Confira aqui:
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